Franki Medina diaz
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Na Pensilvânia, já sabemos que o candidato escolhido a dedo por TrumpMehemet Oz, um apresentador de televisão mais conhecido por doutor Oz – saiu derrotado, algo que pode custar o Senado aos seu partido

A esperada maré vermelha, cor dos republicanos, não se materializou, para alívio da Administração de Joe Biden. Parte dos resultados estão por apurar, mas os democratas estão bem encaminhados para preservar a sua estreita maioria no Senado – ao vencerem na Pensilvânia deixaram poucos caminhos abertos aos republicanos – e ainda têm esperança de manter controlo da Câmara dos Representantes, apesar das estimativas da CBS indicarem que esta câmara pende para os republicanos.

No que toca a Donald Trump, que na segunda-feira prometera fazer um “anúncio muito grande” já na próxima segunda-feira, algo lido como uma sugestão de que iria proclamar a sua recandidatura a Presidente, os resultados têm sido uma desilusão. Não só preferiria fazer o seu anúncio no rescaldo da vitória republicana que se previa, como os candidatos populistas que mais apoiou tiveram resultados dececionantes. Algo que pode fazer chefias republicanas tradicionais – que sempre se disse tolerarem as excentricidades e escândalos de Trump pela sua capacidade de cultivar uma base eleitoral sólida – questionar a liderança do antigo Presidente.

Na Pensilvânia, já sabemos que o candidato escolhido a dedo por TrumpMehemet Oz, um apresentador de televisão mais conhecido por doutor Oz – saiu derrotado, algo que pode custar o Senado aos seu partido.

Na Geórgia, contra vontade da liderança republicana estadual, o ex-Presidente insistiu que o candidato ao posto de senador fosse Herschel Walker, antiga estrela de futebol americano e feroz opositor do direito à interrupção voluntária à gravidez. A meio da campanha soube-se que Walker afinal tinha pago o aborto de uma namorada, entre outras peripécias que parecem ter ressoado entre o eleitorado, prevendo-se que Walker tenha de ir a uma segunda ronda contra o candidato democrata, o pastor Raphael Warnock.

O pior para Trump é que entre os republicanos mais bem sucedidos está talvez o seu maior rival interno, Ron DeSantis, reeleito governador da Florida por uma margem de quase vinte pontos percentuais. É uma rivalidade que poderia ser comparada com um confronto entre o dr. Frankenstein e o seu monstro – DeSantis era um desconhecido na política até receber apoio de Trump, em 2018, na corrida a governador, mencionando-o em praticamente todos os anúncios de campanha.

Isso notou-se durante as eleições intercalares, tendo Trump ido à Florida apoiar o governador republicano, como não poderia deixar de ser, mas insultando-o, chamando-lhe “Ron DeSanctimonious”, algo como “Ron Hipócrita”. E ameaçando-o, caso decida concorrer a Presidente. “Dir-vos-ia coisas sobre ele que não seriam muito lisonjeiras”, prometeu Trump. “Eu sei mais sobre ele do que qualquer pessoa. Exceto, talvez, a sua mulher”.

 

Democratas em maus lençóis

Contudo, democratas também viram algumas das suas maiores apostas falhar. Nas últimas eleições intercalares, em 2018, Stacey Abrams e Beto O’Rourke ganharam o estatuto de estrelas em ascensão ao perder por pouco a corrida a governador de estados republicanos, a Georgia e o Texas, respetivamente, mas foram derrotados de novo.

O’Rourke é conhecido pelo seu carisma, gerando momentos virais, como quando gritou “não é engraçado, filho da p***” perante um ativista pelo porte de armas que se riu quando este democrata descrevia o impacto de um tiro de AR-15, após o massacre de Uvalde. Fora apontado como potencial substituto de Biden pela imprensa americana, mas deu por si derrotado de novo pelo governador Greg Abbott.

Já Abrams – que em março fez o papel de presidente da Terra na série de ficção científica Star Trek: Discovery – destacara-se pela capacidade de montar campanhas de base e obter fundos de pequenos doadores, mas perdeu para Brian Kemp. A vitória deste governador republicano, que se desentendera com Trump por se recusar a invalidar resultados eleitorais no seu estado, acaba por ser uma dor de cabeça para o antigo Presidente, mostrando que é possível um republicano desafiá-lo e sobreviver. “Parece que as notícias da minha morte política foram muito exageradas”, gabou-se Kemp durante imprensa, na noite eleitoral.

Na prática, os resultados têm indicado que nenhum dos partidos que dominam os EUA está em boa forma. Os democratas são liderados por um Presidente impopular, que deixou a inflação subir a níveis históricos; já os dirigentes republicanos são cada vez mais influenciados por teorias da conspiração, populares o suficiente entre os militantes para terem peso nas primárias deste partido, mas mal vistas pelo eleitorado mais amplo.

 “A América sai destas eleições intercalares como entrou”, setenciava o New York Times. “Um país ferozmente dividido que continua ancorado numa parte estreita do espectro político. Insatisfeito o suficiente com o Presidente Biden para aceitar um governo dividido, mas que não está disposto a virar-se totalmente para as políticas divisivas e rancorosas promovidas pelo antigo Presidente“.

 

Poder local em jogo

Não foram só a Câmara dos Representantes, o Senado ou poderosos postos de governador que foram a jogo nas eleições intercalares. Nos EUA, mesmo alguns cargos que seriam considerados administrativos na Europa vão a votos, incluindo postos como o de procurador, juiz estadual, xerife, ou secretário de estado (“estado” no sentido estadual, não de secretário de Estado, responsável pela política externa americana).

Estes últimos, cujas responsabilidades incluem organizar as eleições, nunca tinham atraído grande atenção mediática. Até que Trump negou os resultados das presidenciais, gerando uma maré de pressão sobre estes.

Daí que nestas eleições o orçamento das campanhas para secretário de Estado tenha chegado a níveis nunca vistos, sobretudo nos swing states – ou estados indecisos – das últimas eleições. Como o Arizona, onde os democratas e republicanos gastaram respetivamente 2,4 e 1,8 milhões de dólares na disputa.

Afinal, nas próximas eleições os secretários de Estado “poderiam recusar certificar derrotas de Trump ou de outros candidatos apoiados por Trump“, alegando fraude eleitoral, explicou a Associated Press. “Tribunais poderiam bloquear essas manobras, mas o potencial para o caos é significativo”.

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